Por Rafael Simões
Não é segredo para ninguém que viver em comunidade requer desprendimentos. Mas há algo que dificilmente alguém deseja perder: a sua reputação. É uma tentação muito grande construir uma imagem de perfeição diante das pessoas, com medo do que outros pensarão sobre nós. Se souberem que somos pecadores, quantos julgamentos podem acontecer!
A ironia disso é que todos sabemos que todos somos pecadores.
Diante desta realidade, é inútil prezar por tal mentira. Não apenas inútil, mas desaconselhado. O que o Novo Testamento ordena, na verdade, é o oposto, é justamente confessarmos os nossos pecados uns aos outros; ordem encontrada em Tiago 5.16.
Quando estávamos ministrando essa série em nossa igreja, mostrei ao outro pregador a sequência de mensagens. Essa estava do meio para frente. Mas ele me disse para colocá-la logo no início, após a introdução. Segundo ele, após ler o esboço, entendeu a importância que esta prática traz para a igreja. Concordo plenamente com esse meu irmão.
Na verdade, penso que este versículo pode definir o tipo de cristianismo que viveremos. Se houver negligência em relação a essa ordem, provavelmente seremos cristãos cujo temor a homens é maior que o temor a Deus. O medo do que pensarão de nós faz com que cedamos a tentação de passar uma imagem de perfeição, de pessoas sem pecados, quase como os anjos celestiais. Mas, como a própria Bíblia já nos alertou, “quem teme ao homem cai em armadilhas…” (Pv 29.25). Quando precisarmos conversar com alguém, a falsa reputação construída com a mentira nos impedirá.
Por outro lado, a prática constante deste princípio nos conduz a uma vida de santidade, pois lutaremos contra nossos pecados, sempre contando com a ajuda dos irmãos. Viveremos uma busca coletiva por uma purificação, deixando a velha vida para trás e avançando para a novidade de vida.
Duas ressalvas fazem-se extremamente necessárias neste momento. O versículo de Tiago 5.16 não diz apenas para confessar os pecados uns aos outros, mas para orarmos uns pelos outros. É relevante lembrar desta continuação, uma vez que muitos cristãos utilizam o conhecimento de um pecado alheio para fofocar, prejudicar e julgar seu irmão. São atitudes que inibem o exercício desta mutualidade, e que o próprio Tiago já condenou em 4.11 e 5.9. Assim, a confissão mútua visa a união de cristãos, numa cooperação contra o pecado.
A segunda ressalva é que a confissão mútua não garante o arrependimento e perdão de pecados. Há quem confesse seus pecados a alguém, mas continua na prática dos mesmos. Sendo assim, os passos de Mateus 18 deveriam ser aplicados a ele. E, embora a confissão mútua seja incentivada por Tiago, apenas a confissão a Deus e a morte de Cristo na cruz perdoa os pecados.
Se ainda não desfrutamos da bênção de termos um cristão maduro para compartilharmos nossas aflições e lutas contra o pecado, devemos crer na Palavra, confiar que essa prática é o melhor para nosso desenvolvimento espiritual. Espero que todos nós estejamos envolvidos nessa mutualidade.
Isso é ser igreja!