Em seu livro Os Sem Igreja, Nelson Bomilcar descreve uma confissão que tem ouvido de milhões de crentes evangélicos, em todo o nosso país: “Não fui a nenhuma igreja no final de semana e, preciso ser sincero com você, não senti a menor falta. Estou bem com a minha opção atual, fazendo parte da ‘Comunidade Virtual Webiana’, e assim vou me alimentando aqui e ali com algumas mensagens em mp3 e participando de fóruns de discussão on-line. É um caminho de sobrevivência. Sinceramente, não acredito mais na proposta de ser igreja.” – Esses crentes ficaram popularmente conhecidos como os “desigrejados”. Quase sempre os desigrejados são pessoas envolvidas em histórias de dor, desencanto e amargura que não são curadas ou tratadas durante a jornada. É gente que sonhou, sinceramente tentou, esforçando-se para ser igreja, mas estão sem confiança na instituição igreja. Essas pessoas consideram que a igreja está desvirtuada em sua natureza, na essência, na proposta relacional comunitária e em sua proposta de missão e serviço, por isso relutam diante da possibilidade de se integrar a uma igreja.
Além desses que estão “fora” de uma igreja, temo que nós também que permanecemos vinculados a uma igreja local, com nossos estilos, nossas ênfases, nossas denominações, possamos estar causando divisão na Igreja do Senhor Jesus Cristo, fazendo com que tenhamos uma visão específica de nós mesmos em detrimento de outros que não pensam ou agem semelhante a nós.
É possível ser crente sem ser Igreja? É possível estarmos faccionando a Igreja?
O Apóstolo Paulo, descrevendo a parte prática da Igreja, em sua epístola aos Efésios, diz que “Há somente um corpo” (Efésios 4:4). De todas as metáforas utilizadas no NT para descrever a Igreja, a figura que mais se assemelha à ideia do que é a Igreja é um corpo. Em 1Coríntios 12.12-27, a palavra “corpo” aparece 16 vezes, sempre focalizando a ideia de que os membros são diferentes, mas fazem parte de um só corpo. No versículo 12, é dito: “Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, forma um só corpo, assim também com respeito a Cristo”. Você pode ter conhecido uma diversidade de organizações evangélicas, ou uma variedade de estilos de igreja, ou ainda uma multidão de denominações, mas existe somente uma igreja: o corpo que reúne todos os que creem no Senhor Jesus Cristo como Salvador, desde o dia da Festa de Pentecoste até ao Arrebatamento iminente da mesma.
Enquanto Cristo esteve andando na terra, Ele teve um corpo físico, com o qual pode ser visto, tocado e contemplado pelas pessoas. Fato este, historicamente comprovado. Porém, depois da Sua morte, ressurreição e ascensão, Ele envia o Espírito Santo de Deus para forma um corpo espiritual, que Ele chama de Sua Igreja: “… Deus ressuscitou este Jesus, e todos nós somos testemunhas desse fato. Exaltado à direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e derramou o que vocês agora veem e ouvem” (Atos 2.32-33) – conforme Ele havia prometido: “…edificarei a Minha Igreja…” (Mateus 16.18). Esta Igreja se tornou a expressão física do corpo de Cristo aqui na terra. Agora, como membros do corpo de Cristo, nós somos suas mãos, seus pés, seus olhos e seu coração – o que nos leva a dizer: “Jesus trabalha no mundo por meio de nós!”
Paulo explica esse fato ao escrever: “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito…” (1Coríntios 12.13) – esse versículo é o ensino normativo (explicação doutrinária do batismo com o Espírito Santo) que fala da inserção no corpo de Cristo daqueles que creram. Paulo continua a explicação dizendo que para fazer parte do único corpo de Cristo, não importa a condição étnica ou a situação socioeconômica: “… quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um único Espírito”. Quem crer, receberá do Espírito. Quando Paulo escreve aos romanos, ele diz: “… se de fato o Espírito de Deus habita em vocês. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Romanos 8.9). Não existe a possibilidade de alguém ter crido em Cristo, ser declarado salvo, mas não ter o Espírito de Cristo. A todos os que creram lhes foi derramado o Espírito Santo e todos foram batizados em um só corpo, i.e., todos os que creem, independente de onde estiverem ou de sua condição, são inseridos no corpo de Cristo, a Igreja.
Por isso, aos que são de fato crentes, mas vivem fora da comunhão com a Igreja, uma palavra. É difícil imaginar alguém dizendo para Jesus: “Eu te amo, mas não gosto da sua noiva”, ou “Eu Te aceito, mas rejeito Teu corpo”. Mas é isso que fazemos quando desprezamos e depreciamos a igreja, ou reclamamos dela, abandonando o seu convívio. Em vez disso, Deus nos manda amar a igreja: “Tratem a todos com o devido respeito: Amem os irmãos…” (1 Pedro 2:17a). Isso porque, da mesma forma que um órgão quando desligado do corpo, ele murcha e morre, pois não pode existir por si mesmo, você também estando desligado da vida da igreja, sua vida espiritual fenece e acaba por deixar de existir (Efésios 4:16). É por isso que o primeiro sintoma de declínio espiritual é normalmente o deixar de se ajuntar (Hebreus 10.24-25). Para que os órgãos do seu corpo cumpram o seu propósito, eles precisam estar conectados ao corpo. O mesmo ocorre com você como parte do corpo de Cristo, você foi criado para uma função específica, mas irá perder esse propósito para a sua vida se não estiver agregado a uma igreja local.
Portanto, apesar das nossas diferenças, nós que ouvimos e cremos no evangelho da salvação por meio do Senhor Jesus Cristo, formamos, independentemente onde estamos e nos reunimos, uma única Igreja. Por ser única, é nosso dever cuidar dela, de forma que preservemos a unidade que Jesus já estabeleceu na Sua Igreja.
Concluo, então, afirmando que não somos grupos diferentes! Se somos diferentes, não somos a Igreja de Deus (“Há somente um corpo”).
PENSE NISSO!
Por Silvio Dantas Agostinho