Paulo, em Efésios 4.5, nos diz que há apenas “um só batismo” – o que isso quer dizer?
Muitos creem se tratar do batismo cristão nas águas, e aí ocorrem muitos problemas e disputas relacionados à forma do batismo e, consequentemente, ao rebatismo. Mas será que o rito do batismo cristão retrata melhor o significado do “um só batismo”?
Para respondermos a isso, e antes de aplicarmos esse texto as nossas vidas, temos que entender o significado da expressão “um só batismo” dentro do contexto da Carta como um todo, a qual tem como sua mensagem básica a Igreja de Cristo como um organismo vivo, não como uma instituição, e que é ilustrada como um templo vivo, como o Corpo de Cristo e como a família de Deus Pai. Na formação da Igreja, vemos a atuação do Deus trino abençoando os que estão “em Cristo” (Efésios 1.1): (1)o Pai escolhendo os que estão “em Cristo” para serem santos e irrepreensíveis, e os predestinando para a adoção; (2)o Filho promovendo a redenção por meio do Seu sangue, e provendo o perdão de nossos pecados; e, (3)o Espírito Santo marcando Sua presença em nós, como garantia da nossa herança “em Cristo”. Esse é o contexto em que está inserido a expressão “um só batismo”, ou seja, quando Paulo relata a formação da Igreja de Cristo, formada por judeus e gentios, que estão todos “em Cristo”, e que pertencem uns aos outros (Ef 4.3-6). A estrutura da carta aponta para isso, onde a primeira parte contém uma exposição detalhada dos privilégios dados à Igreja em virtude da sua posição “em Cristo”, enquanto a segunda parte apresenta as implicações temporais de tal posição celestial.
Com isso em mente, penso que devemos relacionar o “um só batismo” a essa atuação da Trindade na formação do único corpo de Cristo. Então, o batismo único descrito aqui se encaixa melhor se entendido como o batismo que Jesus Cristo realiza, utilizando-se do Espírito Santo, onde Ele insere cada crente no Seu corpo. Esse não é o batismo nas águas, feito regularmente em igrejas e por homens, de acordo com a orientação do Senhor (Mateus 28.19), mas, sim, o batismo com o Espírito Santo mencionado por João Batista em Mateus 3.11 (“Ele os batizará com o Espírito Santo”). O batismo ao qual o apóstolo Paulo se refere em Efésios 4.5, não precisa ser buscado. No momento em que alguém crê na mensagem do Evangelho da Salvação em Jesus Cristo, a pessoa é batizada pelo batismo de Cristo, pois o Espírito Santo passa a habitar nela, e todo convertido passa por esse batismo.
É a unidade do Corpo, que Paulo explecita em Efésios 4.4 (“Há somente um corpo”), que é o contexto imediato de Efésios 4.5, unidade essa que surge da unidade do Espírito. Portanto, o “um só batismo” fala da experiência inicial que todos os crentes têm, onde o próprio Cristo, por meio do ministério do Espírito, une as pessoas que creem, formando assim o Seu corpo, com todos os privilégios e responsabilidades que acompanham essa condição. Esse batismo, com seu consequente selo e habitação do Espírito, acontece no momento da conversão. De acordo com 1 Coríntios 12:13 os batizados somos “todos nós”. O próprio Espírito Santo é o “elemento” com que ou em que (en) o batismo é realizado . E o propósito deste batismo é a incorporação “em um corpo (en)” dos crentes na Igreja, que é o corpo de Cristo.
O batismo do Espírito Santo aconteceu na formação da Igreja uma vez só, no dia de Pentecostes (Atos 2). Por isso, faz sentido pensar que só existe “um batismo” com o Espírito Santo. Hoje, quando alguém se converte a Jesus, ele não é batizado com o Espírito Santo e sim selado e habitado pelo Espírito Santo (Efésios 4.13,14; João 14.16,17; Romanos 8.9), porque o batismo com o Espírito Santo é único (1 Coríntios 12.13 “Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito”). Experimentar “um batismo” serve de base e de exortação para manter a unidade do Corpo (Efésios 4.4).
Tendo isso posto…
- Por que difamamos, desonramos e desconsideramos os nossos irmãos, que fazem parte do único corpo de Cristo, o qual foi estabelecido através do único batismo?
- Por que não buscamos uma vivencia maior, mais profunda e mais recíproca com aqueles aos quais fomos unidos pelo único batismo?
- Por que defendemos as bandeiras denominacionais, que faccionam o corpo de Cristo, mais do que a defesa da nossa unidade em Cristo, estabelecida pelo único batismo?
Que essas reflexões nos façam enxergar além do que vemos, que possamos contemplar o verdadeiro Corpo de Cristo, do qual fazemos parte pelo único batismo, apesar das nossas diferenças doutrinárias, e de usos e costumes.
PENSE NISSO!
Por Silvio Dantas Agostinho